SERVIÇO SOCIAL, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
A questão socioambiental e o Serviço Social
O Serviço Social, enquanto profissão, tem como objetivo principal a intervenção social, buscando mediar e intervir nas condições de vida das pessoas e das comunidades, promovendo a justiça social e a inclusão. A intervenção no contexto do meio ambiente e da sustentabilidade pode ser realizada em diversas frentes, desde a conscientização e mobilização comunitária até a participação em políticas públicas e ações que visem à redução do impacto ambiental e à promoção de práticas sustentáveis.


A intervenção do Serviço Social no âmbito ambiental e sustentável é ampla e multifacetada. Os profissionais da área podem atuar na articulação de projetos socioambientais, na mediação de conflitos ambientais, na promoção da educação ambiental, na defesa dos direitos humanos e ambientais, na gestão de riscos e desastres ambientais, e na construção de estratégias para o desenvolvimento sustentável. Além disso, o Serviço Social pode desempenhar um papel crucial na inclusão de grupos vulneráveis no processo de construção de uma sociedade mais sustentável, assegurando que as vozes e necessidades desses grupos sejam adequadamente ouvidas e consideradas nas decisões que impactam o meio ambiente e a qualidade de vida das comunidades.

Compreendendo a questão socioambiental contemporânea como resultado da implementação de políticas sociais e econômicas que adotam um modelo de crescimento prejudicial aos recursos naturais, percebe-se a oportunidade para o Serviço Social atuar nesta área, que emerge como um novo campo de intervenção profissional. Isso porque o atendimento aos usuários e suas necessidades abrange inevitavelmente o ambiente em que vivem e os recursos disponíveis para atendê-las.
As demandas relacionadas à questão socioambiental surgem no dia a dia do trabalho, ligadas a situações específicas que o assistente social enfrenta, envolvendo áreas como Saúde, Assistência Social e Habitação, entre outras. Diante desse contexto, é crucial que a profissão se adapte às novas demandas que surgem, buscando se qualificar para integrá-las e respondê-las no cotidiano profissional. De acordo com Carnevale, citado por Reigota (2005), não há separação entre o ecológico e o social; eles se complementam, mas é necessário que o assistente social esteja atento a esse novo campo de atuação, sempre orientado pela interdisciplinaridade, pois outros profissionais podem enriquecer a prática do Serviço Social, compartilhando termos, significados e experiências comuns.


A compreensão crítica desse profissional é crucial para transformar práticas conservadoras e promover ações que visem mitigar os impactos ambientais. Surge então a questão: quais competências técnicas, teóricas e políticas são necessárias para que o Serviço Social aborde a questão socioambiental de maneira eficaz? Essas competências incluem a habilidade de articular diferentes atores e suas demandas em relação a construções, desabamentos, programas de habitação e pesquisas socioeconômicas, além de oferecer respostas adequadas às consequências sociais dos impactos ambientais e formular políticas públicas pertinentes.
Um exemplo prático do cotidiano é o problema das moradias em áreas de risco. Muitas pessoas, sem alternativas habitacionais, ocupam áreas precárias como morros e locais periféricos. É responsabilidade do poder público encontrar soluções viáveis para essas populações, que podem incluir o remanejamento populacional, contenção de encostas ou outras medidas eficazes.
Questões relacionadas à construção de empreendimentos habitacionais, urbanização, situações de calamidade, e temas vinculados à Assistência Social, Saúde e Educação, entre outros, exigem a criação de espaços e políticas adequados para atender às necessidades da população. Na medida em que esta área de atuação continua a se desenvolver, os assistentes sociais enfrentam o desafio de se atualizar e adaptar às novas demandas. Intervir nesse contexto significa considerar as consequências ambientais das ações humanas e buscar formas inovadoras de combater a fome, a desigualdade e a subalternidade, o que implica refletir sobre a estruturação das políticas sociais com vistas à sustentabilidade da vida social. Há temas que permeiam a prática no âmbito socioambiental e são essenciais para aprofundar e qualificar a atuação profissional. Exemplos incluem a Política Nacional do Meio Ambiente, as legislações do CONAMA, ferramentas como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e tópicos relacionados, como a sustentabilidade.

A questão da "sustentabilidade" nunca foi tão proeminente no cenário global quanto atualmente. O conceito de desenvolvimento sustentável foi definido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1983, como o desenvolvimento que atende às necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades (ONU, 1987).
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, destacou a importância de vincular meio ambiente e economia, refletindo sobre a integração entre ambos.O termo "desenvolvimento sustentável" é frequentemente debatido e interpretado de diferentes maneiras. Concorda-se com Brügger (1993) que a raiz do problema reside na interpretação do termo "desenvolvimento", frequentemente confundido com crescimento na lógica capitalista. Brügger argumenta que desenvolvimento deveria englobar aspectos éticos e não apenas quantitativos, sendo visto como a melhoria concreta das condições de vida, integrando o social e o ecológico, em contraste com o mero crescimento econômico que pode mascarar o verdadeiro significado de "desenvolvimento". O crescimento econômico, por si só, não garante desenvolvimento se os recursos não forem utilizados para melhorar efetivamente as condições de vida.
Assim, a forma como o termo "desenvolvimento sustentável" é compreendido e aplicado atualmente sugere ajustes dentro do sistema capitalista vigente, que muitas vezes ignora a estrutura predatória do sistema e a necessidade de uma verdadeira transformação. Em vez de culpabilizar os pobres, é necessário focar na reestruturação das políticas sociais e econômicas para enfrentar a degradação ambiental de forma eficaz. Portanto, o termo "desenvolvimento sustentável" é utilizado aqui, apesar das limitações da sua compreensão comum, para expressar a continuidade da vida humana em equilíbrio com outras formas de vida no planeta. Como Brügger (1993) sugere, é preciso adotar uma nova ética e redefinir o conceito de "bem-estar" para reverter o estado de degradação ambiental. A lógica atual do sistema requer uma reflexão crítica profunda para que as políticas sociais e econômicas sejam reestruturadas de forma a promover uma verdadeira sustentabilidade.

Desafios e perspectivas do Serviço Social na esfera socioambiental
A relação entre sociedade e meio ambiente se torna cada vez mais evidente, especialmente diante de crises ambientais, mudanças climáticas e a necessidade urgente de desenvolvimento sustentável. Com isso, a interconexão entre a Questão Social e as ambientais exige uma abordagem interdisciplinar e integrada, destacando a necessidade de intervenção profissional que aborda tanto as desigualdades sociais quanto os problemas ambientais.
Um dos principais desafios do Serviço Social na esfera socioambiental reside na complexidade intrínseca das questões ambientais. Problemas como as mudanças climáticas, a poluição e a degradação ambiental ,apresentam múltiplas facetas, exigindo um entendimento profundo das interações entre fatores ecológicos, sociais, econômicos e culturais. Dessa forma, a formação dos profissionais de Serviço Social necessita ser ampliada, a fim de incorporar conhecimentos e competências interdisciplinares que possibilitem uma intervenção eficaz nesses contextos complexos.
Em paralelo a isso ,as desigualdades socioambientais configuram um desafio significativo, uma vez que os grupos sociais mais vulneráveis são, frequentemente, os mais afetados por problemas ambientais. Comunidades de baixa renda, populações indígenas e minorias étnicas sofrem, de forma desproporcional, os impactos da degradação ambiental e das mudanças climáticas. Nesse contexto, o Serviço Social deve desenvolver estratégias que abordem não apenas os efeitos imediatos dessas desigualdades, mas também suas causas estruturais, promovendo a justiça social e ambiental.
Ademais, a participação comunitária é fundamental para a implementação de políticas ambientais eficazes e sustentáveis. No entanto, o engajamento de comunidades marginalizadas em processos de tomada de decisão pode ser desafiador em virtude da falta de recursos, educação e infraestrutura. Contudo, o assistente social desempenha um papel importante na capacitação dessas comunidades, promovendo a educação ambiental e fortalecendo a participação democrática, de modo a garantir que suas vozes sejam ouvidas e consideradas nas políticas públicas.
Por outro lado, a eficácia das políticas públicas ambientais é frequentemente comprometida pela falta de integração e coordenação entre diferentes níveis de governo e setores da sociedade. Portanto, os profissionais do Serviço Social precisam envolver-se ativamente na formulação, implementação e monitoramento dessas políticas, assegurando que sejam inclusivas e atendam às necessidades das populações mais vulneráveis.

Perspectivas do Serviço Social na Esfera Socioambiental
A complexidade das questões socioambientais demanda uma atuação multifacetada e interdisciplinar dos profissionais do Serviço Social. Para responder aos desafios emergentes, a profissão necessita adaptar-se, desenvolvendo novas competências e adotando abordagens inovadoras. Nesse contexto, a interdisciplinaridade se configura como um pilar fundamental. Ao estabelecer diálogos com outras áreas do conhecimento, como ecologia, economia e direito, os assistentes sociais podem conceber soluções mais eficazes e sustentáveis para os problemas ambientais e sociais, promovendo, assim, uma abordagem holística das questões socioambientais.
Ademais, a formação continuada é imprescindível para que os profissionais do Serviço Social estejam aptos a enfrentar os desafios do cenário atual. A aquisição de conhecimentos em análise ambiental, gestão de riscos e educação ambiental, por exemplo, permite uma atuação mais qualificada e alinhada com as demandas da sociedade, contribuindo para a construção de um futuro mais sustentável. Paralelamente, a inovação tecnológica desempenha um papel crucial nessa nova perspectiva. A utilização de ferramentas e tecnologias sustentáveis, como energias renováveis e sistemas de gestão de recursos naturais, contribui para a promoção do bem-estar social e ambiental, fortalecendo a resiliência de comunidades e fomentando o desenvolvimento sustentável.
Além da atuação técnica, o Serviço Social tem um papel fundamental na mobilização social e na defesa por políticas públicas mais justas e sustentáveis. A construção de redes de apoio e a participação em movimentos sociais são estratégias eficazes para pressionar por mudanças estruturais e promover a justiça socioambiental, contribuindo para a construção de uma sociedade mais equitativa.

A inserção do Serviço Social na esfera socioambiental
A profissão de Serviço Social tem ampliado sua atuação para abarcar as demandas socioambientais, especialmente em contextos de empreendimentos que geram impactos ambientais significativos. No entanto, essa experiência ainda é pouco difundida nos meios acadêmico e profissional, exigindo maior visibilidade e aprofundamento teórico.
Historicamente, a atuação do assistente social no setor público, especialmente após a consolidação da política urbana na década de 1990, tem sido mais evidente. Já no setor privado, a inserção da profissão é mais recente, mas igualmente relevante. Diante desse cenário, cabe ao profissional realizar uma análise cuidadosa da realidade, pautada em seu projeto ético político, a fim de identificar e mediar conflitos socioambientais.
Nesse sentido, a realização de estudos socioeconômicos aprofundados sobre as comunidades locais é fundamental. Esses estudos devem considerar a subjetividade e as representações sociais, compreendendo os sujeitos como seres complexos, imbuídos de emoções, sentimentos e valores. Além disso, é essencial capacitar as comunidades para que possam participar ativamente dos processos de decisão e defender seus direitos.
O estudo socioeconômico, como ferramenta de trabalho do assistente social, permite:
Identificar os impactos socioambientais de empreendimentos: Avaliando as consequências para a qualidade de vida da população e para o meio ambiente.
Mediar conflitos: Facilitando o diálogo entre diferentes atores sociais e buscando soluções consensuais. Empoderar as comunidades: Fortalecendo a participação social e a defesa dos direitos.
É importante destacar que o Serviço Social possui um papel fundamental na garantia dos direitos da população durante todo o processo de implantação de empreendimentos. Ao realizar estudos socioeconômicos e atuar como mediador, o profissional contribui para a construção de um futuro mais justo e sustentável.
No entanto, a atuação nessa área enfrenta desafios significativos. A falta de reconhecimento legal e de um órgão fiscalizador específico para o meio social, em contraste com a existência de órgãos como o IBAMA, fragiliza a defesa dos direitos das comunidades. Além disso, a ausência de assistentes sociais nos órgãos ambientais dificulta a análise crítica dos estudos socioeconômicos realizados pelos profissionais da área.
Em conclusão, a inserção do Serviço Social na esfera socioambiental é um avanço significativo para a profissão. No entanto, é necessário superar os desafios existentes, como a falta de reconhecimento legal e a necessidade de maior qualificação dos profissionais. A atuação do assistente social nesse contexto é fundamental para garantir a justiça social e ambiental e promover o desenvolvimento sustentável.
